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A migração do Google para a Alphabet e o que isso significa

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Com a mudança, a gigante do mercado de tecnologia busca blindar as ações do seu negócio principal, deixando seus criativos livres para inovar e errar longe das bolsas de valores

A migração do Google para a Alphabet e o que isso significa

* Coordenador-Geral do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITSrio.org) e professor do Mestrado em Economia Criativa da ESPM Rio.

Se colmeia é o coletivo de abelhas, e alcateia é o coletivo de lobos, podemos arriscar dizer que Alphabet é o coletivo de Google. Esta empresa (cujo instigante site tem no endereço as letras abc.xyz) acaba de ser lançada pelo Google para ser a “dona” do próprio Google. Imagine que a gigante de buscas está sob nova direção. Mais do que isso, imagine que o Google divide agora sala com empresas que ele mesmo criou ou comprou, e que passam a competir por espaço lado a lado com ele.

Parece complexo, mas não é. A Alphabet é um coletivo no qual o Google é uma empresa entre as demais. Isso faz todo sentido no Vale do Silício de hoje, e a pergunta é por que ninguém pensou nisso antes, e quem poderia competir com algo assim?

A Alphabet não está vindo para Porto Alegre, São Paulo ou Salvador. E o motivo disso é o mesmo pelo qual empresas como Apple, Facebook e Microsoft não surgiram em cidades como Miami, Nova York ou Washington. John Hartley, Richard Florida e outros que teorizam sobre o surgimento do Vale do Silício, explicam que inovação e empreendorismo não nascem em qualquer lugar. Há cidades que têm ou poder, ou dinheiro, ou cultura. Mas apenas quando estes três elementos são incubados juntos é que indústrias criativas prosperam.

Você deve ter assistido ao filme A Rede Social, sobre o fundador do Facebook. Ali se vê um pouco de como o Vale do Silício foi capaz de se tornar o que é. A reunião da tríade poder, cultura e dinheiro, em um espaço de tempo tão curto, em bairros tão vizinhos, é uma fórmula invejável. O que acontece quando isso é implementado em ritmo frenético por anos a fio? Esse é o Vale do Silício de 2015.

Se você fosse criativo, onde gostaria de trabalhar? Muitos responderiam: “No Google”. Pense agora no que acontece quando os maiores criativos do mundo (literalmente) querem trabalhar no Google? Falta espaço.

Google deve crescer ainda mais como Alphabet

A Alphabet terá como maior nome do portfólio o Google. Mas também abrigará empresas que trabalham com drones, pulseiras fitness, leitores de energia elétrica, mobiliário urbano, internet das coisas, incubadoras e muito mais. Hoje o Vale do Silício atrai centenas das melhores mentes que nascem por aí. Para manter esses astros juntos, sem incentivar que eles comecem seus empreendimentos independentes, uma solução é criar coletivos como o Alphabet.

Por que empresas como Apple, Facebook e Microsoft não pensaram nisso antes? Steve Jobs, Mark Zuckengerg e Bill Gates são personas públicas que representam suas empresas na mente do consumidor, e é estranho imaginar qualquer um deles sendo controlado por uma outra empresa maior. O Google não sofre disso. Para o mercado da economia criativa, nomes como Larry Page, Sergey Brin e Sundar Pichai são semideuses. Mas para o consumidor em geral essas pessoas são desconhecidas que não dariam qualquer roteiro de filme.

Na época de indústrias produtivas, empresas como Ford e GM sabiam que era necessário criar monopólios em cadeias de produção. Da matéria-prima à distribuição, a regra era quanto maior, melhor. Isso mudou. Hoje a Amazon não imprime livros, o AirBnb não constrói quartos, e o Uber não compra carros. O diferencial dessas empresas é prover um serviço inovador, em larga escala, antes dos demais competidores chegarem no topo do setor junto a elas.

No mercado de tecnologia, quem chega primeiro ao topo chuta a escada e complica a vida dos demais. Muitos usamos Windows, temos iPhone e compramos na Amazon. Poucos de nós conhecemos grandes alternativas para cada uma dessas empresas. Como diria Joi Itio, diretor do prestigiado MIT Media Lab, o lema atual é testar ou morrer (“deploy or die”, no original). Para acertar em cheio é preciso antes prototipar muito. E poder falhar, sem competir, é um diferencial.

Existem motivos econômicos por trás da criação da Alphabet. Investidores amam quando Steve Jobs lança o iPad, e dá certo, e crucificam a mesma empresa quando lança o Apple Watch e o produto encalha. Ao migrar a Google Inc. para a Alphabet, o Google de alguma forma blinda as ações da vaca leiteira de seus negócios, e deixa seus criativos livres para inovarem com alto nível de fracasso, longe das bolsas de valores.

 

Fonte: zh.clicrbs

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